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OS COLECIONADORES (1): ABELARDO DE CARVALHO

[Escritor, cineasta e colecionador de fotos antigas]

Por SORAIA NUNES NOGUEIRA

Como o senhor começou a reunir as fotos?

Na década de oitenta uma senhora me deu duas fotos de crianças mortas. Não soube me dizer o nome delas, mas mesmo assim as guardei por quase duas décadas. Quando estava pesquisando fotos antigas para auxiliar-me na finalização de um romance, encontrei outras fotos de crianças mortas e entendi que, além de me fascinarem, existia um grande número delas.

Há quanto tempo está reunindo fotos?

Há vinte anos, se considerarmos as primeiras. Mais intensamente, há dois anos.

O senhor reúne mais objetos relacionados ao tipo de foto que coleciona?

Alguns documentos, tais como cartas, procurações, cadernos de anotação, e também alguns objetos pessoais.

O senhor possui o “desejo” de adquirir mais fotos? Está sempre nessa busca?

A coleção de fotos está sendo subdividida. A que trata do vilarejo de Porto Real do São Francisco, datada entre 1880 a 1930, está praticamente finalizada. Mas a coleção dos mortos ainda está em processo. Para esta, não há nem tempo nem espaço, ou seja, independe de época e localização.

Qual sua relação com as fotos? Gosta de exibi-las?

Imagino que a minha relação com as fotos seja igual à de qualquer outro colecionador. Além de considerá-las obras de arte, tenho dedicado bom tempo a catalogá-las. Quanto a exibi-las, isso só ocorreu uma vez, durante um evento cultural na PUC Minas Arcos. Mas estou preparando uma exposição maior, se possível, para acompanhar o lançamento de um livro iconográfico.

Qual o seu método para escolha, classificação e disposição das fotos?

O método de escolha das fotos passa pela região, pela época, como já disse (1880 – 1930). E precisam ser originais. A classificação se dá da seguinte forma: monumentos, patriarcas, casais, crianças, féretros, instituições.

O senhor tem mais prazer com as imagens ou com o objeto-fotografia?

Depende. No caso de minha coleção, tem foto que me fascina pela imagem propriamente dita, pela cena retratada, pela composição, pelos volumes, pelos arranjos, pelo inusitado da cena. Outras vezes, me fascina o passe-partout, o craquelado, as interferências, as dedicatórias. Até mesmo os danos causados pelo tempo me fascinam tanto quanto a imagem em si.

Quais as curiosidades das suas fotos?

São muitas. As fotos antigas muitas vezes comprovam certas lendas: como aquela em que diziam que um sedutor tinha um cacho de cabelo dourado para conquistar as suas pretendentes. O automóvel comprado no Rio de Janeiro, na década de 1920, que chega à estação ferroviária sem que ninguém imagine que precisasse de combustível.

O senhor procura conhecer mais sobre o tipo de foto que reúne?

Procuro sempre identificar no mínimo o nome e a história do fotografado, o nome do fotógrafo, a data, o local e, se possível, em que circunstância aquela foto se deu.

O senhor discute “suas fotos” com outras pessoas? Sente prazer ou alguma necessidade nisto?

Sempre que possível. Além do prazer, é uma forma de rastreamento, de alargar os horizontes. Alguém sempre se lembra de ter visto uma foto interessante em algum lugar. E qualquer pista é valiosa.

O senhor se considera um colecionador?

No início, não. Mas quando me pego viajando trezentos ou até quinhentos quilômetros atrás de fotos antigas que se enquadram em meu acervo, penso que ajo tal qual um colecionador. Quando me pego invadindo casarões antigos, não pode haver outra explicação, isto é doença de colecionador. Portanto, me considero, sim, um colecionador.

Auspicia expor esse material em algum museu?

Não por enquanto.

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Para saber mais sobre Abelardo de Carvalho:

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